Resumo: Tratado do Desânimo
No percurso da salvação da alma, muitas são as armas a disposição do inimigo no formato das tentações. Porém, nenhuma é tão mortal quanto o desânimo, conforme nos apresenta Pe. Jean Michel no livro Tratado do Desânimo.
Como gostei bastante do conteúdo dessa obra, decidi escrever um post específico sobre a mesma, pois pode ser que isso desperte a vontade de ler também em outras pessoas. Já deixo avisado que embora seja um livro relativamente pequeno (~ 100 páginas), o conteúdo é bastante rico, e o tema é bastante interessante.
Fonte da imagem: Amazon.
Pois bem, no início do post mencionei a palavra "tentações", todavia, qual o significado dessa palavra no contexto do livro? Segundo o autor, é todo sentimento que é oposto à lei de Deus, seja em si mesmo ou pelas consequências que pode ter.
Se nos vem um pensamento contra a Fé, um sentimento contra alguma outra virtude, consideramo-lo como uma tentação, desviamo-nos dele, e aplicamo-nos a produzir atos opostos a esse pensamento ou sentimento que nos põe em perigo de ofender a Deus.
É fundamental, então, que evitemos essas ciladas, sobretudo o desânimo. A razão é apresentada ainda nos primeiros capítulos do texto.
Veja, nas tentações convencionais, tais como a luxúria ou a gula, o inimigo nos ataca uma virtude em particular, e mostra-se a descoberto, sendo mais fácil percebê-lo e recorrer aos bons ensinamentos para vencê-las; entretanto, com o desânimo, ele ataca todas as virtudes de uma vez, expondo a alma a ser vencida por suas paixões.
Achamo-nos sem coragem, prontos a tudo abandonar, e é até aí que o demônio quer conduzir a alma desanimada.
Para entender o perigo do desânimo, o autor examina a conduta ordinária das pessoas:
A esperança de ser bem-sucedido, alcançar um bem, evitar um mal – numa palavra, de satisfazer algum desejo ou alguma paixão – é o que as faz agir; é o que as sustenta nas penas que têm de suportar; é o que as anima nos obstáculos que têm a vencer. Tirai-lhes toda esperança e logo cairão na inação.
A alma cristã que não espera vencer na prática de alguma virtude, nada ou quase nada empreende para se fortificar. Os esforços insuficientes que ela faz aumentam-lhe a fraqueza; e, mais do que meio vencida pelo seu desânimo, ela se deixa facilmente arrastar à paixão que a domina.
Esse raciocínio é apresentado de maneira mais didática em seguida:
- A vista da sua fraqueza lança-a primeiramente na irresolução, na perturbação;
- Nesse estado, toda ocupada da dificuldade que sente em combater, ela já não vê os princípios que devem guiá-la;
- O temor de não ser bem-sucedida impede-a de enxergar os meios que Deus lhe apresenta e que deve adotar para vencer.
Ela se entrega, pois, sem defesa ao inimigo. É como uma criança a quem a vista de um gigante que avança contra ela faz tremer, e que não pensa que uma pedra basta para o derrubar, se ela se servir dessa pedra em nome do Senhor.
- Nota: no original não estão presentes os índices, porém decidi acrescentar pois acredito que facilite o entendimento.
Ainda de acordo com o padre, para combater o bom combate, temos às nossa mãos as virtudes teologais: a Esperança (confiança em Deus), a Fé, e a Caridade.
Sobretudo a Esperança.
Em que é que se funda, pois, a Esperança cristã? E qual é o motivo dela segundo a religião? O Papa Bento XIV, no modelo do Ato de Esperança, exprimiu as perfeições divinas que formam esse motivo. Esse ato é assim: Meu Deus, espero em vós porque sois fiel às vossas promessas, sois todo-poderoso, e porque infinitas são as vossas misericórdias. Nesse motivo, não há nada do homem; tudo é tomado em Deus mesmo. E pode haver motivo mais forte para nos firmar na Esperança, na confiança em Deus?
E como fazer isso? Ao longo do livro aprendemos diversas lições a esse respeito, porém, em resumo, pode-se dizer que com muita oração, cultivo das virtudes na prática, e leitura.
Os últimos dois capítulos inclusive são relacionados a como bem servir-se das leituras e como bem escolhê-las.