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Insights do Didascalicon - Livro III


Recentemente, durante minhas férias no final do ano, resolvi usar parte do tempo para a leitura de textos filosóficos, tais como:

  • Meditações de Marco Aurélio: reflexões do imperador romano Marco Aurélio, seguidor da filosofia estoica. Acabei comprando outros livros da coleção estoica da edipro por ter gostado desse. Futuramente vou escrever um artigo sobre;
  • Uma História Da Filosofia - Vol. I: um resumo com mais de 1000 páginas da história da filosofia, focando, neste volume, na Grécia, Roma e período medieval. Li apenas o começo por enquanto;
  • Didascalicon: Sobre a arte de ler: um guia medieval para os estudos, não apenas das Obras Sagradas, mas também da filosofia e das artes liberais. O objetivo é mostrar ao leitor o caminho para a sabedoria, sendo bastante válido sobretudo nos tempos atuais, onde muitas são as distrações e ofertas de material raso ou errado.

Dentre esses - todos muito bons -, o tema deste artigo será uma parte do último, encontrada no livro III que trata sobre a ordem e o modo de ler e sobre a disciplina. Meu objetivo é apresentar alguns insights referentes ao estudo e a sabedoria, refletindo os ensinamentos de um mestre cristão católico medieval de acordo com minha interpretação.

Dois tipos de escritos

O primeiro insight que gostaria de compartilhar é bastante útil para nos guiar na escolha do que iremos consumir.

Segundo Hugo de São Vitor, podemos dividir os escritos em dois tipos. Temos aqueles chamados de "artes", que são subordinados à filosofia; e temos aqueles chamados de "apêndices das artes", que são apenas indiretamente subordinados à filosofia.

Em outras palavras, existem escritos que nos ajudam a percorrer o caminho até a sabedoria e a felicidade de maneira mais fácil e direta que outros, sendo portanto mais benéfico focar nestes do que naqueles. Esse tipo de escrito pode ser mais facilmente encontrado a partir da recomendação dos mestres, tais como o próprio Hugo de São Vitor faz ao longo do Didascalicon.

Este argumento surge da constatação de que a filosofia é o fundamento racional para chegar à Verdade e à felicidade. Dito isto, podemos extrapolar essa ideia para todas as outras áreas da vida, incluindo os assuntos profissionais.

Considerando minha situação atual enquanto engenheiro (mecatrônico e de software), vale muito a pena investir no conhecimento dos princípios e da base das tecnologias, da matemática e da física principalmente, que é onde estão suas ideias fundamentais, discernindo sobre o que é bom e o que é melhor.

Noutro momento, mais adiante no livro, o autor volta ainda a esse tema ao dizer:

Nada pode ser considerado bom se exclui o que é melhor. Se não podes ler todas as obras, lê as que são mais úteis; e, se puderes ler todas, não deves, todavia, despender em todas o mesmo esforço.

As três coisas necessárias ao estudo

O segundo insight está relacionado à prática do estudo. Embora esse e os demais insights sejam evidentes quando apresentados desta forma, muitas vezes não paramos no dia-a-dia para refletir da maneira adequada, e consequentemente não enxergamos as melhorias possíveis, ou mesmo entendemos o objetivo daquilo que estamos fazendo.

Segundo Hugo de São Vitor as três necessidades do estudo são:

  1. A capacidade natural. Indica quão facilmente o estudante apreende o que foi ouvido e quão solidamente retém o aprendizado. Está relacionado ao engenho e a memória;
  2. O exercício. Como o estudante cultiva a capacidade natural pelo esforço e pela assiduidade.
  3. A disciplina. Como o estudante, vivendo de modo louvável, conforma sua conduta à ciência adquirida. O estudante deve se tornar um reflexo dos seus conhecimentos, honrando seus mestres.

Tratando especificamente da capacidade natural, minha vivência tem mostrado que entre seus componentes, a memória é a que tem a capacidade de ser melhorada mais efetivamente. Podemos usar ferramentas de repetição espaçada como o org-drill ou anki para reforçar a memória ao longo do tempo, relembrando informações importantes através de seus cards.

O exercício mental, assim como o exercício físico, deve ser regulado e periódico, evitando situações de estresse extremas e prolongadas que podem levar a lesões sérias (burnout, por exemplo).

E por fim, comentando sobre a disciplina, a aplicação dos estudos ajuda na sua compreensão e fixação no longo prazo.

Os princípios

Qualquer que seja o tema explorado, ele possui algum princípio no qual se apoiam toda a veracidade do assunto e a força de sua argumentação, e é dele que dependem todas as outras coisas abordadas ali.

Quando estamos lendo algum conteúdo, devemos buscar entender e guardar (caso seja válido) o princípio das ideias apresentadas. Eventualmente isso pode ser transformado num card para nosso sistema de repetição espaçada, como mencionado anteriormente.

Muitas vezes a mensagem que o autor quer transmitir é simples e direta, porém ele enche de exemplos desnecessários, o que é um erro na minha percepção. Por exemplo, nesse último ano li um livro que tratava da motivação, considerando pessoas do tipo X (motivação extrínseca) e tipo I (motivação intrínseca).

A ideia principal do livro poderia ser expressa diretamente em algumas dezenas de páginas, incluindo exemplos práticos, porém o autor, talvez por influência da editora, preferiu encher o livro de exemplos. Essa lição também encontrei recentemente ao ler o clássico livro On Writing Well: The Classic Guide to Writing Nonfiction.

O fundamento para a sabedoria

Neste livro é dito que o fundamento necessário para alcançar a sabedoria consiste no estudo e compreensão das sete artes liberais conforme descoberto pelos sábios da antiguidade (Trivium + Quadrivium).

Segundo o autor, a partir desta base é possível deduzir as respostas para as questões mais diversas, sabendo portanto dirigir sua vida para a felicidade real.

Ainda preciso estudar e conhecer mais a respeito deste caminho para tirar minha própria conclusão, porém decidi adicionar esse insight aqui pois pode ajudar outras pessoas que também buscam a sabedoria.