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Sobre a analogia entis


A Incredulidade de São Tomé (Caravaggio).

  • Notas e observações pessoais sobre o curso da referência [1].

Karl Barth, teólogo protestante e pastor da igreja reformada, consolidou num único princípio a razão pela qual não poderia tornar-se um católico, de modo que resolvendo este problema, estaria resolvido o problema da sua conversão.

O argumento apresentado por Barth sustenta que a analogia entis é uma invenção do anti-cristo, e por isso não é possível tornar-se católico. Resumidamente, o teólogo critica a analogia entis, enquanto abraça a analogia fidei.

Mas afinal, o que é a analogia fidei e a analogia entis?

Analogia fidei

A analogia fidei defende que o ser humano racional e inteligente recebe de Deus a revelação através de Jesus Cristo. O conhecimento de Deus é uma dádiva recebida pela fé em Cristo. E essa é a analogia da fé. O ser humano tem em Jesus uma ponte para conhecer Deus.

E até então, nenhum problema. Nós católicos estamos de acordo neste ponto.

Vamos apresentar agora o ponto de divergência.

Analogia entis

Além do elemento da fé, nós católicos olhamos para a criação de Deus (e.g. os seres e a realidade criada), abstraimos suas qualidades (o bom, o verdadeiro e o belo), e a partir dessas qualidades conseguimos captar algo que está em Deus. Temos então a analogia entis, ou a analogia do ser.

E esse ponto é muito importante pois é o que abre espaço para a contribuição da razão, e da teologia natural (teodiceia). Daí o uso da filosofia na investigação católica.

O problema, segundo Barth, é que a razão humana está doente devido ao pecado original, e por isso a inteligência humana se tornou uma máquina de confecção de ídolos. Por isso, através da contemplação e da investigação da realidade usando a razão, o ser humano acaba criando ídolos de Deus na própria mente.

Tendo também relação com o misticismo da Igreja ortodoxa grega, conforme apresentado na referência [2].

Devido às suas raízes gregas, e pela contribuição de ilustres pensadores clássicos, esta parte do império romano sempre teve o lado racional muito desenvolvido. Isso se refletiu nas obras de alguns dos grandes padres da Igreja, por exemplo, a obra [3].

Porém, com o passar dos anos, essa abordagem racional acabou sendo sobreposta por uma visão voltada ao misticismo, o que levou grande parte dos expoentes racionais a migrar com seu conhecimento para a parte latina do império. Essa mudança de paradigma pode ser evidenciada com a adoção das práticas hesicastas:

A palavra hesicasmo deriva do substantivo grego hesychia, originalmente "quietude", mais tarde "quietude sagrada", "paz" e "solidão" reunidas num só conceito. Os monges hesicastas acreditavam que a meditação, o controle da respiração e a repetição das orações conduziam à theosis, "divinificação", a união mística com Deus Pai que envolvia seus praticantes na mesma luz divina que banhara Cristo na transfiguração no monte Tabor. Os hesicastas acabariam conquistando o domínio da Igreja ortodoxa.

— [2]

Resposta católica

Ponderando sobre essas ideias e argumentos, o padre Paulo Ricardo desenvolveu um curso para explicar a resposta católica [1], baseada no princípio caro salutis est cardo.

Nós católicos, além de venerar a parte mística e divina, adoramos também a humanidade de Cristo. E por venerar a humanidade de Cristo, entendemos que outras criações de Deus podem ser a extensão dessa humanidade.

Essa interpretação tem fundamento histórico no segundo concílio de Niceia [4]:

It was determined that

As the sacred and life-giving cross is everywhere set up as a symbol, so also should the images of Jesus Christ, the Virgin Mary, the holy angels, as well as those of the saints and other pious and holy men be embodied in the manufacture of sacred vessels, tapestries, vestments, etc., and exhibited on the walls of churches, in the homes, and in all conspicuous places, by the roadside and everywhere, to be revered by all who might see them. For the more they are contemplated, the more they move to fervent memory of their prototypes. Therefore, it is proper to accord to them a fervent and reverent veneration, not, however, the veritable adoration which, according to our faith, belongs to the Divine Being alone—for the honor accorded to the image passes over to its prototype, and whoever venerate the image venerate in it the reality of what is there represented.

— [4]

Referências

  • [1] Por que não sou protestante? Padre Paulo Ricardo. Disponível no plataforma paga através deste link. Um curso bastante didático e acessível, com bem mais detalhes e informações do que o apresentado neste curto artigo.

  • [2] De Bizâncio para o mundo. Collins Wells. Disponível em: link. Este livro narra a história do império bizantino, sua influência e sua queda para o império otomano.

  • [3] Carta aos Jovens Sobre a Utilidade da Literatura Pagã. São Basílio. Disponível em: link.

  • [4] Second Council of Nicaea. Wikipedia. Disponível em: link.